Sites Grátis no Comunidades.net Criar um Site Grátis Fantástico

Assembléia de Deus Missão do Brasil - Estudos Bíblicos



Total de visitas: 339760
VISITAÇÃO - A MISSÃO CONSOLADORA DA IGREJA

Assim como Jesus, a Igreja, que somos nós, devemos visitar as pessoas.

INTRODUÇÃO

- Prosseguindo com a discriminação das tarefas que devem ser realizadas pela Igreja, falaremos hoje da visitação, prática que, infelizmente, num mundo onde se defende cada vez mais o individualismo, tornou-se rara e, o que é mais triste, prática que, quando realizada, o é de forma inadequada.

- Jesus Cristo, a cabeça e o exemplo da Igreja (I Pe.2:21), não só visitou muitas pessoas, como também mandou Seus discípulos que o fizesse (Mt.10:11; Lc.10:5). Como Jesus é o mesmo, não muda (Hb.13:8), como podemos, como corpo de Cristo, deixar de visitar as pessoas?

I – “VISITAR” NAS ESCRITURAS

- ‘Visitar”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa “ ir ver (alguém), por cortesia, dever, afeição etc. em local onde tal pessoa permanece, como casa, hotel, hospital, local de trabalho etc.; ir conhecer, ir rever ou percorrer com determinada finalidade; ir (o médico) atender (o doente) em seu domicílio ou leito hospitalar; percorrer fiscalizando; inspecionar, vistoriar; manifestar-se a; aparecer; aparecer em (certo local), assomar, surgir; revelar (Deus) sua cólera ou sua graça a; fazer visitas mutuamente, conviver, dar-se com”. Vem da palavra latina “visitare” que, por sua vez, deriva da raiz “vid”, que está relacionado a “ver, examinar” e que deu origem ao verbo “viso”, que significava “ver muitas vezes, ir ou vir ver”.

- Pelo que podemos verificar, portanto, “visitar” tem o significado de “ir ver alguém”, é um gesto de deslocamento para que haja um exame mais minucioso e demorado de uma pessoa. No Antigo Testamento, a palavra “visitar” aparece na Versão Almeida Revista e Corrigida como tradução da palavra hebraica “paqad”פקך))(Gn.50:24,25; Ex.13:19; 32:34; 34:7; Lv.18:25; Nm.14:18; Sl.59:5; 80:14;.89:32; 106:4; Pv.19:23; Is. 24:21; Jr.6:15; 15:15; Os.1:4; 2:13; 4:9; 8:13; 9:9; Am.3:2,14; Sf.2:7; Zc.10:3; 11:16), que tem o sentido de “punir”, “castigar”, ou, como diz o Dicionário Houaiss, “revelar Deus a Sua cólera ou a Sua graça”, sentido este que é reproduzido na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento), onde a palavra “epiagó” (έπιαγώ) também tem o sentido de conduzir a julgamento ou a castigo, bem como a palavra “episkepsai” (έπίσκεψαι) traz-nos a conotação de um exame, de um pensamento detido sobre algo ou alguém, o que somente é possível mediante a convivência, o olhar demorado. Aliás, vemos a expressão “visitar” com certa freqüência no livro do profeta Jeremias (Jr. 3:16; 6:15; 8:12; 9:9,25; 14:10; 15:3,15; 21:14; 23:2; 25:12; 27:8,22; 29:10,32; 36:31; 44:13; 46:25; 49:8; 50:18,31; 51:18,44,47,52; Lm.4:22), numa clara demonstração de que a “visita” divina envolve juízo e julgamento tanto para a restauração espiritual do Seu povo como para castigo dos ímpios, como ocorreu durante o ministério daquele profeta em Judá pouco antes do cativeiro da Babilônia.

OBS: Por isso, aliás, não podemos concordar com aqueles que “reclamam” da letra do hino 407 do Cantor Cristão, quando afirma “Vem, visita Tua Igreja”, pois “Deus não visitaria a Sua Igreja, mas estaria nela, com ela conviveria”. O fato de Deus estar em nós, estar na Igreja, não impede que Ele nos venha visitar, ou seja, punir-nos e castigar-nos, pois Ele assim o faz porque nos ama (Hb.12:6). A letra adotada na Harpa Cristã, no hino 530, porém, retirou esta rica e saudável expressão.

- Não é só Deus quem “visita” o povo por Sua iniciativa, mas o profeta Isaías também diz que, quando o povo se encontra em aperto, vai ao encontro do Senhor para que Deus lhes corrija (Is.26:16), mas, ainda aqui, vemos a palavra “paqad” vinculada ao castigo, à correção do Senhor.

- Mas, além da “visita divina”, o Antigo Testamento também apresenta, ainda que em poucas passagens, casos de “visita humana”, como a que Jessé mandou Davi fazer em relação aos seus irmãos (I Sm.17:18), onde também se tem a palavra “paqad”, a indicar que Davi deveria “pesquisar”, “examinar”, “fazer um julgamento” do estado de seus irmãos no campo de batalha, uma feliz figura do papel que faria Jesus no meio da humanidade, quando aqui viesse para nos salvar. É este também o sentido de “visitar” em Jó 5:24, quando Elifaz diz que se Jó se submetesse ao castigo do Todo-Poderoso, também poderia “visitar a sua habitação” e não encontraria falta alguma, prova de que “visitar” aqui também é um exame para proferir um julgamento, um juízo.

- Em o Novo Testamento, a palavra visitar é o verbo “épisképtomai” (έπισκέπτομαι), que já vimos na Septuaginta, cujo significado é “considerar, procurar, inspecionar, examinar com os olhos para ver como alguém é, para ajudar o pobre, o necessitado e o aflito, com o propósito de trazer salvação”, que vemos, por exemplo, em At.7:23, 15:36 e Tg.1:27.

- Nas três aparições da palavra “visitar”, em o Novo Testamento, porém, não vemos este sentido de “juízo” ou “julgamento”, que está quase sempre vinculado ao contexto das passagens do Antigo Testamento, mas, pelo contrário, há sempre uma conotação de exame para o fim de ajuda, de compreensão, de assistência, mesmo quando se tem a menção de um episódio do Antigo Testamento, como se vê no gesto de Moisés visitar os hebreus, na pregação de Estevão (At.7:23). Paulo e Barnabé resolveram visitar os irmãos para ver se havia progresso espiritual por parte dos crentes convertidos dentre os gentios, sem qualquer idéia de recriminação ou julgamento, mas de ajuda e assistência, como também é este o sentido da “verdadeira religião” no texto de Tiago.

- Esta mudança de significação entre um e outro Testamento é absolutamente coerente com o papel a ser desempenhado pela Igreja nas “visitas”, visto que, como corpo de Cristo, a Igreja deve prosseguir a obra de sua cabeça, do Senhor Jesus que, ao vir ao mundo, disse que não veio para julgá-lo nem tampouco condená-lo, mas, sim, para que o mundo fosse salvo por Ele (Lc.9:56; Jo.3:17; 8:15; 12:47). De pronto, pois, vemos que toda e qualquer “visita” que seja motivada pelo propósito de julgamento e condenação não tem qualquer respaldo bíblico, é algo que é feito sem qualquer direção do Espírito Santo, que está neste mundo para nos lembrar o que foi ensinado pelo Senhor (Jo.14:26).

II – O QUE É “VISITAR”

- ‘Visitar”, em primeiro lugar, é “ir ver (alguém), por cortesia, dever, afeição etc. em local onde tal pessoa permanece, como casa, hotel, hospital, local de trabalho etc.”. Vemos, portanto, que “visitar” envolve um aspecto físico, que é o deslocamento de alguém para o local onde está outra pessoa. É verdade que, nos dias em que vivemos, é possível uma “visita” sem o deslocamento físico, já que a tecnologia já nos permite entrar em outros lugares sem sair de casa, apenas com recursos como a “webcam”, mas, mesmo que não se tenha este deslocamento físico, há, sem dúvida, uma atitude de passar ao ambiente onde está a outra pessoa, ainda que de forma virtual.

- Este elemento “físico”, ou seja, o deslocamento, embora necessário, não é suficiente. Para visitar, não basta deslocar-se até o local onde está a pessoa, nem mesmo para o ambiente onde ela se encontra, se for utilizado algum meio virtual, mas é preciso que também se tenha o desejo de se ingressar no ambiente do outro, é preciso haver um motivo, um propósito de chegar e de se inserir onde vive e está a outra pessoa. Esta disposição, que o dicionarista denominou de “cortesia, dever ou afeição” é o elemento “espiritual” da visita, que é de importância fundamental quando estamos a falar da visita da Igreja, que é uma nação espiritual. Aliás, o ilustre comentarista bem realçou este aspecto da visita, ao dizer que a visitação é a “missão consoladora da Igreja”, ou seja, é a tarefa em que a Igreja mais se assemelha ao Espírito Santo, o nosso Consolador, o nosso “Paráclito”, ou seja, aquele que é chamado a estar do nosso lado.

- A visita exige, pois, deslocamento físico, mas com o intento de estar ao lado da outra pessoa, no outro ambiente ou lugar, ou seja, uma disposição para estar junto de alguém, próximo a alguém. Esta disposição exige uma atitude de “empatia”, de “compaixão”, ou seja, de se pôr no lugar do outro para que haja a devida compreensão, o devido esclarecimento, o devido aconselhamento. A “visita” exige este gesto de “estar ao lado”, o que importa na assunção da mesma posição, do mesmo lugar de quem está sendo visitado. É por isso que Deus, ao “visitar” o Seu povo no Egito (como havia sido dito por José – Gn.50:24,25), afirmou ter “descido para livrá-lo” (Ex.3:8), ou seja, visitar alguém exige que assumamos a sua posição, que estejamos no “seu nível”.

- Neste elemento “espiritual” da visita, vemos que estão presentes três aspectos: a “cortesia”, o “dever” e a “afeição”. O primeiro elemento, a “cortesia”, cujo significado é “atributo, característica do que se apresenta de modo cortês;civilidade, educação no trato com outrem; amabilidade, polidez”, fala-nos que toda visita deve ser feita conforme as regras de boas maneiras vigentes numa dada sociedade, de forma amável, educada, polida e respeitosa. Na “visita”, devemos respeitar os costumes locais e as normas de boa educação, mesmo que tais regras e normas sejam de criação humana e que nada ou pouco aproveitam no aspecto espiritual. No entanto, a Igreja não deve ser motivo de escândalo nem aos judeus, nem aos gentios nem à igreja de Deus (I Co.10:32). Por isto, não devemos nos opor aos costumes existentes nos lugares onde formos fazer visitas, evidentemente, de modo polido e educado, deixando de participar de tudo aquilo que contraria a Palavra de Deus.

- Jesus, o exemplo que devemos seguir, sempre respeitou todas as convenções vigentes no meio do Seu povo nas visitas, demonstrando sempre polidez. Em momento algum de Seu ministério terreno, vemos que tenha se portado mal ou sido censurado por Seu comportamento nos lares que visitou, mesmo em situações extremamente difíceis, como, por exemplo, na casa de Jairo onde, apesar da incredulidade e da zombaria desrespeitosa que ali sofreu, manteve-se sóbrio e equilibrado, tão somente pedindo ao dono da casa que somente ele, sua mulher e alguns discípulos fossem com ele ao quarto onde jazia a menina morta (Mc.5:39,40; Lc.9:51-53). Outro exemplo de cortesia do Senhor vemos no Seu comportamento na casa de Simão onde somente externou o maltrato a que estava sendo submetido pelo seu anfitrião ante o julgamento feito à mulher que ungia os Seus pés (Lc.7:44-47).

- O segundo fator do elemento “espiritual” da visita é o “dever”. Como vimos na primeira lição deste trimestre, a visitação é um dos “deveres cívicos” da Igreja. O apóstolo Tiago, primeiro pastor da igreja em Jerusalém, irmão do Senhor e autor da epístola que leva seu nome, afirmou que “…a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tg.1:27). Temos, portanto, que um dos dois deveres religiosos existentes é o de “visitar órfãos e viúvas nas suas tribulações”. Visitar, portanto, é um dever que existe no relacionamento entre Deus e os homens (que é o ambiente da “religião”, ou seja, “culto prestado a uma divindade”, o “religar” entre Deus e o homem).

- Este “dever”, observe-se bem, não é um dever em relação às pessoas carentes (órfãos e viúvas, expressão hebraica que representa os desvalidos, aqueles que estão desamparados e desprotegidos), mas, antes de mais nada, em relação a Deus. Trata-se de um “dever”, isto é, de uma obrigação imposta por Deus aos homens, de algo a ser satisfeito pelo homem diante do Senhor. Não é por outro motivo, aliás, que o Senhor condenará todos aqueles que não satisfizerem as necessidades dos que precisam (Mt.25:41-45). Trata-se de uma falta em relação a Deus e não propriamente em relação ao próximo.

- A visitação que se exige de cada um de nós não é a visita a quem esteja de bem com a vida, numa posição confortável, em condições de nos ajudar. Visitar a estes não é pecado nem errado, pois a própria Bíblia diz que devemos nos alegrar com os que se alegram (Rm.12:15a). No entanto, o dever existente diante de Deus é o de visitarmos os órfãos e as viúvas, aqueles que não têm com que nos recompensar, aqueles que precisam de nós e não nós deles, aqueles que estão a chorar, pois é nosso dever chorar com os que choram (Rm.12:5b). Aliás, as Escrituras indicam que, quando cumprimos este dever, somos abençoados, visto que, quando vamos visitar uma casa onde há banquete, não temos a oportunidade de ver a realidade da vida sobre a face da Terra, o que nos é permitido ver quando visitamos alguém que está no luto (Ec.7:2).

- O terceiro fator do elemento “espiritual” da visita é a “afeição”, ou seja, o amor fraternal, que, inclusive, já estudamos ao verificarmos a chamada “missão social da Igreja”. Sem a “fraternidade”, impossível se faz a visitação, pois é preciso que amemos o outro para que nos desloquemos até onde está para ajudá-lo, seja material, seja espiritualmente. É por este motivo, aliás, que a verdadeira e genuína visita só pode ser praticada pelo servo de Deus, pois só ele tem o amor de Deus derramado no seu coração pelo Espírito Santo (Rm.5:5).

- Como a visita envolve “afeição”, jamais ela pode ser motivada por um intuito de destruição das almas, como, infelizmente, tem sido o propósito de muitos. As “visitas destruidoras” não são motivadas pela “afeição”, mas pela hipocrisia. Os fariseus, diz-nos o Senhor Jesus, eram especialistas neste tipo de “visita” (cfr. Mt.23:14), onde se procura “devorar as casas das viúvas”, ou seja, destruir as casas dos necessitados, seja dilapidando seu patrimônio, seja por meio de calúnias ou difamações, causando a “ruína moral” dos que já estavam necessitados. Quantos, sedizentes crentes em Cristo, não têm adentrado nos lares apenas para fomentar a difamação e a maledicência com suas línguas ferinas? Quantos, em vez de trazer consolo e conforto, não trazem a discórdia, o desalento e o desespero? Precisamos nos livrar destes “fariseus” e torná-los verdadeiros servos do Senhor!

- A visita envolve “afeição” e, portanto, devemos visitar as pessoas com o verdadeiro amor divino, amor que, como nos ensina o apóstolo Paulo, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Co.13:7). Assim, quando vamos fazer uma visita, devemos suportar tudo que encontramos naquele ambiente, mesmo se forem coisas desagradáveis a Deus e que estejam presentes no lar de alguém que se diz cristão. Precisamos ter sabedoria divina para, no momento e do modo certos, apontarmos aquela incongruência entre o discurso e a realidade, entre a confissão e a prática, assim como Jesus aguardou o instante para exortar a Simão em sua casa. Precisamos, de forma polida e respeitosa, saber o momento de pormos para fora todos os obstáculos à fé da pessoa, assim como o Senhor fez com aqueles zombadores e murmuradores que se encontravam na casa de Jairo.

- O objetivo de nossas visitas deve ser sempre as pessoas. Visitamos pessoas , isto é, visitamos “gente” e, como ensinou o teólogo e ensinador, pastor Antonio Silva, fomos chamados, na Igreja, para “cuidar de gente”, embora muitos têm se preocupado em cuidar de “números” e “quantias”. Jesus veio salvar homens e mulheres e nosso alvo deve ser o mesmo de nossa cabeça, se é que somos o corpo de Cristo. Por causa disto, em nossas visitas, ainda que devamos observar as regras sociais, ainda que saibamos que estamos a cumprir com deveres diante do Senhor, a prioridade deve ser dada ao que é visitado, ele é importante, tão importante que fomos visitá-lo. Somente se lhe tivermos amor fraternal, poderemos fazer uma boa visita, seremos bem sucedidos em nosso intento.

- O segundo significado de “visitar” é “ir conhecer, ir rever ou percorrer com determinada finalidade”. A “visita”, portanto, assume aqui um outro significado relevante, qual seja, o de conhecer alguém, conhecimento que, como sabemos, tem dois aspectos: o de intimidade e o de domínio de todos os elementos e fatores que compõem a essência de alguma coisa, respectivamente, os significados hebraico e grego do termo.

- A “visita” é um “conhecimento” e eis o motivo pelo qual o novo convertido, aquele que está chegando ao Evangelho, tem de ser visitado pelos seus irmãos na fé. Visitar é estabelecer uma certa intimidade com a pessoa, pois vamos ao seu encontro no seu ambiente. É por isso que a visitação envolve uma questão ética importantíssima, que é o dos limites da privacidade da pessoa visitada. Jamais o visitante deve ser uma pessoa indiscreta, uma pessoa violadora da intimidade alheia, da privacidade de alguém. Nunca nos esqueçamos que a intimidade é algo preservado pelo próprio Deus no ser humano, tanto que o próprio Jesus reservou um espaço da intimidade, um instante em que o homem deve, solitariamente, dirigir-se a Deus (Mt.6:6,17,18).

- Vivemos dias em que o mundo tem se encaminhado para se tornar uma “aldeia global”, onde os meios de comunicação e vários recursos tecnológicos são tais que se diminui a cada dia e instante a privacidade das pessoas. Como bem ensinou o jurista brasileiro Paulo José da Costa, a intimidade nada mais é que o “direito de estar só” e este direito é previsto pelo próprio Deus e, portanto, deve ser respeitado pela Igreja.

- Em virtude da tendência de redução da privacidade das pessoas existente na atualidade, muitos, na Igreja, se deixam levar por esta “onda” e acabam, também, por transformar suas visitas em violações da intimidade alheia, em deprimentes sessões de curiosidade e de indiscrição. Jesus jamais agiu desta maneira, mas, bem ao contrário, sempre respeitou a intimidade das pessoas. Ao contrário dos carpideiros que estavam na casa de Maria e de Marta, certamente “azucrinando” as irmãs enlutadas a título de consolação (Jo.11:31), nem sequer foi até a casa delas, mas quis ir ao túmulo, somente indo à casa de Lázaro depois que este já estava ressuscitado (Jo.12:1,2). Aliás, sempre vemos Jesus sendo convidado e, então, indo até as casas das pessoas, jamais se intrometendo ou “se convidando” para ir até a casa das pessoas, atitude, aliás, que é típica do adversário de nossas almas e não do Senhor Jesus, que só entra quando é convidado (cfr. Mt.12:44,45 e Ap.3:20).

- Assim, toda visitação deverá ser antecedida de um convite, convite este que pode ser induzido, mormente nos casos em que a pessoa está passando por grande necessidade espiritual, em fraqueza tal que se verifique que ela mesma não tem sequer condições de pedir uma visita ou nos casos dos novos convertidos, que, por serem ainda recém-nascidos espirituais, discernimento ainda não têm da necessidade e dos benefícios da visita. Mas jamais se poderá visitar alguém de surpresa, sem prévio aviso, de modo a causar-lhe embaraço, mal-estar e até contrariedade. Precisamos ter muita prudência, pois a visita jamais poderá ser violação de intimidade, de privacidade de quem quer que seja.

OBS: O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, é bem explícito na necessidade de adentrarmos ao lar alheio apenas mediante um convite, num ensino que, por reproduzir o costume judeu e cristão dos tempos de Maomé, merece ser aqui transcrito como importante corroboração do que estamos a dizer: “…Ó vós que credes! Não entreis em casas outras que as vossas, até que peçais permissão e cumprimenteis seus habitantes. Isso vos é melhor, e Allah assim determinou, para meditardes. E, se ninguém encontrais nelas, não entreis nelas, até que vo-lo seja permitido. E, se vos é dito:’Retornai’, retornai. Isso vos é mais digno. E Allah, do que fazeis, é Onisciente.…” (24:27,28) (Tradução oficial do sentido do Alcorão para a língua portuguesa, do dr. Helmi Nasr) (destaques originais).

- Devemos, também, ter muita prudência com relação à visita a lares em que todos não são crentes, em que haja pessoas que não são cristãs. Devemos respeitar as regras internas do lar visitado, bem como a intimidade e privacidade daqueles que não são crentes. Muitos serão inimigos do Evangelho e deverão ser tratados com toda civilidade possível, com todo carinho e amor. Devemos permitir que mantenham a sua cotidiana conduta em suas casas, respeitando-os e, de forma firme, mas altamente polida, não permitindo que venham a prejudicar ou perturbar o serviço que estejamos a fazer com os que são crentes. O respeito e a prevalência à dignidade de cada pessoa é a forma mais sublime que temos para demonstrar o amor que temos àquela alma e, muito mais do que isto, ao amor que Deus tem àquela(s) pessoa(s). Para tanto, precisamos estar na plena disposição do Espírito Santo, que saberá nos orientar como devemos nos conduzir, pois só Ele sabe o que há no interior de cada ser humano (I Sm.16:7; Pv.16:9).

OBS: A preocupação com o respeito ao visitado é tanta que, entre os judeus, mesmo em se tratando de visita para consolo dos enlutados, o Talmude (segundo livro sagrado do judaísmo) determina que os consoladores só devam falar e trazer mensagens de conforto depois que o enlutado se pronuncie (Moed Katan 28b), como também não se deva consolar quem já se encontre consolado por si mesmo (Moed Katan 27b), numa clara demonstração do respeito que se deve dar ao ambiente e aos sentimentos do visitado.

- Este conhecimento ou “revisão” proporcionados pela visita devem ter, diz o dicionarista, “uma determinada finalidade”. Daí tiramos uma importante lição: toda visita tem de ter um propósito definido. Há uma grande diferença entre uma “visita” e um “culto domiciliar”. Um “culto domiciliar” é um culto que se faz na casa de alguém, ou seja, é uma reunião que, na medida do possível, permite o ingresso de pessoas no local, cujo objetivo é adorar ao Senhor na beleza da Sua santidade. É um culto que, em vez de ser realizado no templo, é feito numa casa.

- “Visita”, porém, é diferente. Deve haver um propósito definido, ou seja, vai-se a um domicílio, ou a um hospital, asilo ou estabelecimento penitenciário, enfim, ao lugar onde está a pessoa visitada com um objetivo determinado: orar pelo enfermo, consolar o triste, congratular-se com alguém por uma bênção alcançada, saber porque a pessoa deixou de freqüentar a igreja local, conhecer o lar do novo convertido e assim por diante. Como há uma “determinada finalidade”, a visita tem de ser breve, até porque, com a necessidade que se tem, na atualidade, de bem administrar o tempo, cada vez veloz na correria dos nossos dias, todo minuto é precioso. É triste sabermos que há visitantes que não têm noção desta necessária brevidade e se tornam enfadonhos e cansativos, o que é altamente prejudicial para os resultados da visita.

- Deve-se ter sabedoria na duração da visita, que deve ser o suficiente para que se alcance a finalidade prevista. Devem ser evitados constrangimentos, tais como o de se levar grande número de pessoas para visitar e de, sem avisar, chegar-se em horários que causarão grande tumulto no cotidiano do lugar visitado (como a hora das refeições, por exemplo). Obtida a finalidade, deve-se retirar o quanto antes, pois o único exemplo que temos, nas Escrituras, de longas visitas, são as dos fariseus, cuja finalidade era destrutiva, ainda que camuflada por “longas orações”.

OBS: Com doentes, então, a brevidade deve ser objeto de ainda mais atenção, pois, quem já esteve hospitalizado ou acamado sabe como é bom receber visitas, como nos sentimos felizes em nossa alma, mas, como também, uma delonga nos chateia e nos traz transtornos e seqüelas em nossa recuperação física. Tanto assim é que, entre os judeus, embora a visita aos doentes (chamado de “bikur cholim”) seja um mandamento da lei, considera-se que não há obrigatoriedade sempre que a visita por demasiado penosa para o enfermo.

- O terceiro significado de “visitar” é o “significado médico”, ou seja, “ir (o médico) atender (o doente) em seu domicílio ou leito hospitalar”. “Visita” envolve, pois, uma atitude necessária e preparatória para a cura de uma “enfermidade”. Um dos trabalhos do ministério terreno de Jesus foi o de “curar a todos os oprimidos do diabo” (At.10:38) e a Igreja deve prosseguir nesta tarefa, que é um dos sinais que seguem aos que crêem (Mc.16:18 “in fine”). Mas, para que isto se faça, é necessário que haja “visitas”, ou seja, que as pessoas sadias, que os “médicos” (i.e., os que crêem) vão atender os “doentes” em seu domicílio ou leito hospitalar, ou seja, que haja visitas.

- A visita é uma medida necessária para que haja cura, não só física, como também espiritual. A primeira visita de Jesus, em Seu ministério terreno, registrada nos Evangelhos é a que fez à casa da sogra de Pedro, onde a curou de febre(Mt.8:14,15). Das seis visitas de Jesus registradas nos Evangelhos, em metade delas, ou seja, três, há notícia de cura física como sendo a finalidade ou o resultado da visitação (Mt.8:14,15; Mt.9:23-25; Jo.12:1-11) e, na outra metade delas, temos notícia de salvação de almas, ou seja, da cura do maior mal da humanidade, que é o pecado(Mt.9:9-12; 26:6-13; Lc.7:36-50), como deixou o Senhor explícito em pelo menos uma destas visitas (Mt.9:12).

- Tanto a visita tem de ter este significado médico que vemos a cura como uma das prioridades traçadas por Jesus na Sua missão aos discípulos ainda durante o Seu ministério terreno (Mt.10:8; Lc.10:9). Não é por outro motivo, aliás, que o Senhor nos manda que, assim que cheguemos a uma casa, tragamos a saudação de paz para os que nela estão (Mt.10:12; Lc.10:5). Precisamos nos identificar como sendo os portadores da paz, aqueles que vêm trazer conforto, descanso e consolo aos que estão a sofrer. A finalidade “médica” é uma das principais que deve nortear a visitação.

OBS: No Código de Lei Judaica, o Schulchan Arukh, em seu capítulo 193, a visita aos doentes é considerada um dos mandamentos impostos aos judeus.

- Aliás, a saudação de paz determinada pelo Senhor aos Seus discípulos é muito mais do que um mero cumprimento formal, do que um costume social, mas, sobretudo, um testemunho de vida que é apresentado em palavras. Como poderemos saudar com a paz do Senhor se não tivermos? Para termos paz com Deus, precisamos ter sido justificados de nossos pecados (Rm.5:1) e nos termos mantido em santidade desde a nossa justificação. Não se trata de mero cumprimento, pois o Senhor nos diz que, ao saudarmos com a paz, se houver recebimento dela pelos visitados, eles a gozarão, mas, se não, ela retornará para nós. É algo palpável, é algo objetivo, não um sentimento que somente tenha o visitante, não uma mera convenção social. Será que temos, realmente, a paz de Cristo para adentrarmos em lares alheios?

OBS: A saudação com a paz era já um costume entre os judeus, de modo que não se trata de uma inovação de Cristo, mas, uma vez mais, a demonstração de seu sentido profundo. O Corão reproduz esta tradição de saudação, como vemos no seguinte trecho: “…E, quando entrardes em casas, cumprimentai-vos mutuamente, com saudação vinda de Allah, bendita e cordial. Assim, Allah torna evidentes, para vós, os versículos para razoardes.” (24:61 “in fine”). É interessante observar neste pensamento corânico que o entendimento da revelação divina depende da saudação da paz, ou seja, numa feliz afirmação, vemos que somente faremos Deus compreendido aos visitados se, efetivamente, tivermos a paz divina, o que, para nós, servos do Senhor, significa que, pelo nosso proceder é que poderemos levar a paz de Cristo aos visitados.

- Nossas visitas têm tido esta mesma finalidade, este mesmo propósito? Temos obtido a cura física e/ou espiritual das pessoas que temos visitado? Ou nossas visitas têm produzido carência e maior necessidade, como as visitas dos fariseus, que, segundo o Senhor Jesus, atravessavam terras e mares, para fazer os visitados filhos do inferno duas vezes (cfr. Mt.23:15)?

- O quarto significado de visitar é “percorrer fiscalizando; inspecionar, vistoriar”, termo este que está mais relacionado à área legal, à área jurídica. Este significado de “visita” mostra-nos que quem visita acaba verificando a realidade das coisas, entra em contacto direto com o que existe. A visitação, portanto, permite que se tenha o real estado das coisas, o que, em se tratando da vida na igreja local, é algo de fundamental importância, pois nos permite verificar o que é real e o que é dissimulado. Na casa do fariseu Simão, Jesus pôde ver que todo o legalismo daquele homem, toda a aparência de rigor e zelo nas tradições era hipocrisia pura e simples, pois as regras mais elementares de hospitalidade não tinham sido observadas por ele quando Jesus o visitou.

- Não há como impedir que uma visita seja um contacto com a realidade e este contacto com a realidade, muitas vezes, revela uma situação de hipocrisia, uma situação de incongruência entre o que é dito e o que é feito. Entretanto, devemos nos lembrar que, enquanto Igreja, não estamos neste mundo para julgar ou condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Cristo Jesus. À evidência, Jesus sempre viu coisas que não O agradavam em todas as visitas que fez, mas jamais vemos no Senhor uma atitude de desprezo, discriminação, julgamento, juízo e condenação.

- Jesus nunca compactuou com o pecado, mas sempre tolerou e foi complacente com o pecador e continua a sê-lo e é por isso, aliás, querido(a) irmão(ã), que estamos a estudar a Sua Palavra. Porque Ele sabe o significado da expressão bíblica “misericórdia quero e não, sacrifício’ (cfr. Mt.9:13), que podemos, apesar de nossos muitos pecados e falhas, estarmos debaixo da Sua mão potente e tendo o privilégio de estudarmos e ensinarmos a Sua Palavra.

- Assim é que, sem magoar as pessoas, sem escandalizar, sem matar as almas, Jesus sempre demonstrou disposição em melhorar os ambientes que havia visitado, inclusive retirando dali todos aqueles que se recusavam a crer e a se submeter à Palavra. Assim, pôs para fora os instrumentistas e os que dEle zombavam na casa de Jairo; soube demonstrar, num diálogo franco e aberto, a hipocrisia de Simão no seu maltrato ao divino hóspede, ao mesmo tempo que, ao aceitar a adoração da mulher pecadora, impediu que fosse retirada daquele local; soube evitar entrar na casa de Marta e Lázaro enquanto ali estavam os “consoladores”; não deixou de se sentar à mesa com publicanos e pecadores na casa de Levi, este já convertido, sem, no entanto, fazer-Se como um deles.

- A visitação com intuito de condenação ou de julgamento é algo que está circunscrito, nas Escrituras, ao Antigo Testamento e, mesmo assim, com exclusividade para Deus. Mesmo no episódio de Davi, descrito supra, apesar de o pequeno ter sido mandado por Jessé para inspecionar seus irmãos, é evidente que era ele um mero portador de notícias, pois eventual julgamento se daria por Jessé, o pai de família, aquele que tinha o poder de julgar e tomar providências.

- Isto é importante notadamente para os obreiros, que, como ninguém, têm o dever de visitar o rebanho de Deus que se encontra sob sua responsabilidade (I Pe.5:2,3). Para apascentar o rebanho de Deus, para cuidar dele é preciso que ele seja visitado, até porque “visitar” (em hebraico, “paqad”), tem, entre seus significados, o de “prestar atenção em”, “observar”, “tomar cuidado de”. As ovelhas precisam ser observadas dia após dia, necessitam ser examinadas em todos os seus pormenores e, para isto, há necessidade de que haja visitas por parte do obreiro, por parte do corpo ministerial.

- No Antigo Testamento, o animal que era levado para o sacrifício tinha de ser cuidadosamente observado, a fim de que se verificasse se nele não havia alguma mancha ou imperfeição. O animal tinha de ser “sem mancha” (Lv.1:3) e, por isso, tinha de ser examinado. O “cordeiro pascal”, ou seja, aquele cordeiro que deveria ser sacrificado na Páscoa, era submetido a um exame ainda mais rigoroso, durante três dias e meio era submetido a exame antes de ser sacrificado para depois ser assado e consumido (Ex,12:3-6). As pessoas leprosas que haviam sido curadas eram também examinadas meticulosamente antes de ser realizado o sacrifício com o qual eram readmitidos na convivência da comunidade (Lv.14:2,3). Todas estas prescrições da lei são figura da necessidade de um exame criterioso a ser feito junto aos integrantes da igreja local, para verificação se estão em santidade na presença do Senhor, se têm uma real vida espiritual. Sem dúvida alguma, a visita é um mecanismo deste exame, é um importante instrumento para tal verificação.

- Contudo, a visita não pode ter um papel de julgamento, de condenação, uma intenção de juízo. O julgamento cabe a Deus e a Ele só. A visitação, embora sirva de revelação de “manchas”, não pode ter por objetivo e intuito a destruição das almas, mas o seu aprimoramento, a sua cura espiritual. Por isso, embora seja inevitável que a visita revele tais mazelas (e por isso muitos resistem a visitas na atualidade…), o papel do obreiro deverá ser, sempre, o de promover a cura do visitado, preservando a sua intimidade, a sua privacidade, proporcionando a sua reconciliação com o Senhor.

- É neste sentido, aliás, que devemos entender duas passagens bíblicas. Uma delas encontrada em Tg.5:14-16, que manda que o presbítero seja chamado quando alguém estiver doente e prescreve, inclusive, a unção dos enfermos com azeite, único caso bíblico de unção com azeite. O texto, embora se refira a doença física, fala-nos de que a cura física é seguida, também, de perdão de pecados que, eventualmente, tenham sido cometidos e nos fala, também, de confissão das culpas uns com os outros, com conseqüente cura proporcionada pela oração de uns pelos outros.

- Ora, quando bem analisamos este texto, percebemos que, no contexto de uma visita por causa de enfermidade física, pode ocorrer que haja a descoberta de pecados, que, muitas vezes, podem até ter motivado a doença física. Isto é descoberto na presença do presbítero, ou seja, de alguém do ministério, e a Bíblia diz que, em havendo confissão e arrependimento, haverá perdão. A visita é uma oportunidade para que haja confissão, para que haja cura espiritual, perdão este que já vem e que é resposta à oração que foi feita por todos que ali estão.

- Ora, se a Escritura diz que houve perdão, que houve resposta à oração, se há presença de um presbítero, ou seja, do ministério, se há confissão e se fala que a oração do justo pode muito em seus efeitos, temos que o assunto, para Deus e para a Igreja, já estará encerrado. Não há necessidade alguma de se levar ao conhecimento além daquelas quatro paredes do domicílio do visitado do que ali se passou. Deve-se preservar a intimidade do lar. Não se tem oportunidade para “condenação pública” do que estava errado, mas se deve glorificar a Deus pelo perdão obtido, pela reconciliação alcançada. Obviamente que estamos a falar de fatos que foram descobertos por ocasião da visita e ali mesmo resolvidos, não de fatos que já eram conhecidos e abalaram a comunidade, que exige a retratação pública e o perdão da comunidade.

- A visita, portanto, não pode ser motivo para “fofocas”, para “difamações”, para “maledicências”. Não pode ter por intuito e finalidade a destruição, mas o exercício da misericórdia divina, ainda que venha a produzir, como é inevitável, a revelação da verdade.

- Daí a grande importância de as igrejas locais terem “comissões de visitas” ou “grupos de visitas”, formados por pessoas idôneas, cooperadores da obra do Senhor, oficiais e ministros, que venham a fazer o exame necessário e dar a devida assistência aos irmãos. Com o crescimento quantitativo das igrejas locais, torna-se impossível ao dirigente local, muitas vezes, visitar a todos, e, por isso, estes grupos, que, existentes desde os primórdios das igrejas, são hoje raros, são de fundamental importância para a saúde do rebanho de Deus. Evidentemente que o dirigente local não se exime de ele efetuar visitas, apesar da existência deste grupo, mas o trabalho deve ser dividido com a igreja local. Nestes grupos, porém, deve sempre haver ao menos um cooperador da obra do Senhor, devidamente autorizado pelo ministério da igreja local.

- A outra passagem encontra-se em I Pe.4:15-19, onde o apóstolo fala a respeito do sofrimento do cristão, dizendo que o julgamento divino começa pela própria casa de Deus, ou seja, pela Igreja, um julgamento, porém, que não é feito para perdição, mas para que possamos desfrutar da glória que nos está reservada. Esta “visita divina” ao salvo só será para o nosso bem se formos praticantes do bem, inclusive se não nos intrometermos em negócios alheios (I Pe.4:15 “in fine”). A propósito, o apóstolo considera quem quem age desta maneira nem cristão é (cfr. I Pe.4:15,16).

- Assim, na visitação divina a nossas vidas, não devemos nos “revoltar” contra o Senhor, mas, bem ao contrário, colocá-lO ao nosso lado, confiando nEle, que é este o sentido da expressão “encomendem-Lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem” (I Pe.4:19). Bem ao contrário do que ensinam os romanistas, devemos encomendar nossas almas diretamente a Deus, pois não há mediadores humanos entre nós e Deus, salvo Jesus Cristo homem (I Tm.2:5), de forma que não devemos segredar algo a pessoa alguma, mesmo que esteja, sob a direção do Espírito Santo, numa visitação. Se Deus revelar algo a alguém, devemos confessar e nos arrepender e, como vimos na passagem anterior, esta pessoa deve manter tudo sob sigilo, mas, com o perdão, tudo é esquecido diante de Deus.

- Se Deus não revelar explicitamente ao visitante o que se passa conosco, mas sentirmos que estamos sendo alvo da “visitação divina”, devemos também confessar e pedir perdão a Deus, a quem devemos “encomendar nossas almas” e passar a praticar o bem, pois o julgamento começa pela casa de Deus, para que, como justos, possamos ser salvos. Daí porque o visitante não deve ser “curioso” e “intrometido”, até porque, se o fizer, por causa do mesmo texto, nem cristão será considerado pelo Senhor. Tomemos cuidado!

OBS: A palavra “encomendem” constante da Versão Almeida Revista e Corrigida, que a Nova Versão Internacional preferiu traduzir por “confiar” é o grego “paratithemi” (παρατίθημι), cujo significado é “colocar ao lado”, “colocar antes”, “demonstrar”, “apontar”, “distribuir”, “transferir”. Na “visitação divina”, devemos nos entregar totalmente a Deus, aceitar o Seu ensino e repreensão.

- O quinto significado de “visitar” é “manifestar-se a; aparecer; aparecer em (certo local), assomar, surgir”. Visitar significa aparecer, manifestar, mostrar-se. Quando visitamos alguém, tornamo-nos visíveis para esta pessoa, fazemo-la perceber que ela não está sozinha, que há alguém que se preocupa com ela, que alguém está disposto a ouvi-la, a orar por ela, a ajudá-la. Por isso, a visitação é uma das melhores formas de manifestação do amor fraternal e a frieza espiritual dos últimos dias, a apostasia está relacionada com a perda de vigor da visitação.

- Se Jesus criou a Igreja porque é impossível que alguém, de modo solitário, possa ter vida espiritual sadia e abundante sobre a face da Terra, é importantíssimo que nos ajudemos uns aos outros, que desenvolvamos o espírito fraterno, a “adelphía”, que encontra na visitação uma de suas principais manifestações.

- Nos dias dos “homens amantes de si mesmos”, “sem afeto natural”, é evidente que não são muitos aqueles que se disponham a “visitar” e nesta solidão que impomos a muitos de nossos irmãos, temos contribuído enormemente para o seu fracasso espiritual. Entretanto, precisamos visitar aqueles que são órfãos, ou seja, que estão carentes de consolação, da presença do Espírito Santo. O Espírito Santo está em nós e Jesus disse que O mandaria para que não estivéssemos órfãos (Jo.14:18). Se não visitarmos aqueles que estão órfãos, ou seja, que praticaram atos que entristeceram o Espírito Santo que, por isso, deles Se ausentou, permitiremos que o inimigo, com sua gama de espíritos malignos, venha a tomar conta destas vidas (Mt.12:45; Lc.11:26). Somos instrumentos de Deus ou agentes de Satanás? Quando não visitamos, certamente estamos a contribuir para o avanço dos “sem-coração”, das hostes espirituais da maldade.

- Mas também devemos visitar as “viúvas”, ou seja, aquelas que perderam os seus maridos, isto é, aquelas que se livraram da lei do marido, que foram libertos da lei (cfr. Rm.7:4), mas que ainda não se submeteram devidamente a Cristo, que ainda não pertencem a Cristo, ou seja, aqueles que, tendo se arrependido dos seus pecados, foram libertos do poder do pecado, foram libertos pelo Filho (Jo.8:36), mas que estão impossibilitados, por algum motivo, de permanecer na Palavra do Senhor (cfr. Jo.8:31). As “viúvas” representam aqueles que, tendo crido, ainda não conhecem as Escrituras, não foram discipulados. Estes, como ninguém, precisam ser visitados, antes que venham a ser novamente escravizados pelo maligno, que, aproveitando-se da pouca raiz, lhes angustiará e perseguirá e promoverá a sua morte espiritual (Mt.13:21).

- Quando visitamos alguém, demonstramos que somos a “luz do mundo”, pois aparecemos, somos vistos, cumprindo, assim, o que Jesus exige de cada “luz do mundo”, ou seja, de nos pormos no velador, para que se dê luz a todos que estão na casa (Mt.5:15).

- O sexto significado de “visitar” é “revelar (Deus) Sua cólera ou Sua graça”, significado que vimos ser o presente no Antigo Testamento. A visita é a manifestação de Deus ao Seu povo, seja para promover a Sua cólera, castigando, seja para promover a Sua graça, libertando. No entanto, o castigo de Deus, em relação ao Seu povo, não tinha o propósito de destruir, mas o de aperfeiçoar, sendo, pois, propriamente a manifestação da graça, ainda que, num primeiro instante, que parecia ser de tristeza (Hb.12:11).

- Quando fazemos visitas enquanto servos do Senhor, quando a Igreja visita, tem de revelar a graça de Deus aos visitados, mostrar-lhes como Deus é misericordioso e que veio em socorro dos doentes e não dos sãos (Mt.9:12), sem que isto signifique apoio ao pecado, mas, sim, um chamado dos pecadores ao arrependimento (Mt.9:13). Nas visitas, porém, devemos enfatizar a misericórdia divina, não os sacrifícios, ou seja, mostrar a Cristo, que deve estar formado em nós (Gl.4:19), a fim de que possamos mostrá-lO aos homens.

- Por isso, a pessoa que visita deve ser uma pessoa que tenha maturidade espiritual. Cristo precisa estar nela formado, para que ela possa mostrá-lO às pessoas que são visitadas. Isto significa que não pode se tratar de uma pessoa neófita na fé, mas, sim, de uma pessoa experimentada, que tenha experiência com Deus, pois só os que têm experiência podem ter esperança e, assim, transmiti-la a outros sem confusão, fazendo irradiar o amor de Deus que está em seu coração aos demais (Rm.5:4,5).

- A experiência com Cristo e com o Evangelho é um atributo indispensável para quem vai visitar. Foi este requisito que fez com que Paulo mandasse Timóteo para a igreja em Filipos (Fp.2:19-22). Somente pessoas experientes são capazes de cuidar das vidas necessitadas no estado em que se encontram, bem como saiba bem discernir o que é querido pelo Senhor Jesus e atentar para os Seus interesses.

- “Experiência” aqui não significa “tempo de casa”, “antigüidade de conversão”, mas, sim, “caráter treinado”, “caráter comprovado”, “qualidade de ser aprovado”, pois é este o significado da palavra grega “dokimé” (δοκιμή), que aparece tanto em Rm.5:4 como em Fp.2:22, as duas ocorrências bíblicas desta palavra. Somente pessoas que tenham tido experiências com Deus, que tenham sido provadas e aprovadas podem servir para formar “comissões de visitas” e “grupos de visitas”. Pessoas sem conhecimento de Deus, ou seja, que não tenham construído uma intimidade com o Senhor nem tampouco passado por provações e experiências profundas com Deus não estão ainda aptas para a visitação.

- Decorre daí uma outra verdade bíblica que tem sido negligenciada na atualidade e que geram graves distorções nas igrejas locais. As visitas são para pessoas experientes, não para se realizar “experiências” espirituais. O “lugar visitado” não é “laboratório” para se pôr em prática “modelos”, “visões”, “teorias”, mas lugares onde se promove o aperfeiçoamento espiritual mediante o exercício da cortesia, do dever e da afeição, mediante a demonstração do amor fraternal, mediante a direção do Espírito Consolador. Por isso, devemos repudiar e impedir toda e qualquer “visita” motivada por pessoas interessadas em “inovações” e “invencionices”, como as propugnadas por “falsos mestres”, entre os quais temos, na atualidade, os gedozistas como os principais incentivadores.

- O sétimo significado de “visitar” é “fazer visitas mutuamente, conviver, dar-se com”. A “visita” é uma atitude de freqüência, de continuidade, não é um evento isolado, uma ocasião única na vida de alguém. Há aqueles que nos visitam “uma vez na vida, outra na morte”, mas não é este o significado de “visita”. “Visita” importa em continuidade, em freqüência, tanto que o verbo “visitar” vem de uma palavra latina que indica esta freqüência: é “ir e vir continuadamente, freqüentemente”.

- Verdade é que as visitas não têm todas as mesmas finalidades, nem é para que se as tenham, visto que as necessidades se alteram dia após dia. No entanto, enquanto Jesus não voltar, há necessidade da visita e, por isso, o dever de visitação tem de perdurar até o arrebatamento da Igreja. É a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai a visitação de órfãos e viúvas, dos necessitados, que sempre existirão entre o povo de Deus (Ex.22:22; Dt.10:18; 16:11; 24:19-21; Mt.26:11).

- Esta freqüência e continuidade da visitação têm três fatores que devem ser observados: a mutualidade, a convivência e a simpatia. Visitar é “fazer visitas mutuamente”. Tem-se, mais uma vez, na vida da igreja local, a verificação de que todos são iguais diante de Deus, que são membros em particular que, apesar de suas peculiaridades e diferenças, são todos membros integrantes do corpo de Cristo. Assim, quem hoje visita, pode ser visitado amanhã. Não existem aqueles que sempre visitarão, porque ninguém é superior a pessoa alguma. Um dia, nós visitamos e consolamos alguém; outro dia, este mesmo alguém nos visita e nos consola.

OBS: Nós mesmos tivemos esta experiência há alguns anos atrás. Após termos visitado e consolado um amado irmão, que passava por seríssimas dificuldades, cerca de três anos depois, era a nossa vez de sermos visitados e consolados por este mesmo irmão, pois agora éramos nós que havíamos sido submetidos a uma dura provação.

- A convivência é o resultado da visitação. Quando há visitação freqüente e contínua numa igreja local, a fraternidade realmente se desenvolve e passamos a conhecer melhor e mais profundamente os integrantes de nossa igreja local. Isto permitirá que cada um possa ajudar o outro de verdade, não apenas na aparência, produzindo um fortalecimento espiritual e se cumprindo o objetivo de Cristo ao criar a igreja. A igreja local passa a ser um verdadeiro grupo social e não apenas um ajuntamento, onde as pessoas, em meio a uma multidão, desconsideram os necessitados e são desconsiderados em suas necessidades, uma mera multidão que tão somente aperta e oprime Jesus, mas não consegue dEle qualquer virtude (Lc.8:45,46).

- Por fim, a visita freqüente e contínua produz a simpatia, ou seja, passamos a nos dar uns com os outros. Uma das grandes armas que produz o distanciamento entre as pessoas é o “preconceito”, que nada mais é que um pré-julgamento, que uma apreciação pela aparência, que resulta da falta de convivência, da falta de visitação. Quando, porém, passamos a nos conhecer uns aos outros, passamos a entender nossas diferenças e o complemento que há entre um e outro, o que faz com que nos demos uns com os outros, gerando uma “simpatia”, uma unidade que nos faz ser verdadeiros irmãos, onde o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl.133).

III – ALGUMAS VISITAS DE JESUS E OS SEUS ENSINOS

- Depois que vimos o “visitar” nas Escrituras e o que é “visitar”, no significado da palavra, resta-nos ver, diante do caráter prático de nosso estudo neste trimestre letivo, o que Jesus tem a nos ensinar a respeito da visitação. O Setor de Educação Cristã da CPAD elencou seis visitas de Jesus, a saber: visita à casa de Pedro; visita à casa de Mateus; visita à casa de Jairo; visita à casa de Simão, o leproso; visita à casa de Simão, o fariseu; visita à casa de Maria e de Marta. Com todo o respeito, porém, entendemos que os Evangelhos não apresentam apenas estas visitas de Jesus, bem como que a visita à casa de Marta e de Maria não foi a que se deu por ocasião da ressurreição de Lázaro, mas, sim, são mencionadas duas visitas a esta casa de Betânia: uma registrada em Lc.10:32-42 e outra, seis dias antes da páscoa, depois da ressurreição de Lázaro, registrada em Jo.12:1-11. Também não podemos deixar de registrar que alguns consideram que a visita na casa de Simão, o leproso (Mt.26:6) seria a mesma mencionada em Jo.12:1-11.

OBS: Além da visita à casa de Maria e de Marta, registrada em Lc.10:32-42, podemos mencionar como outra visita de Jesus a que fez nas bodas de Caná de Galiléia, registrada em Jo.2:1-12, como também a visita à casa de Zaqueu, mencionada em Lc.19:5-10.

- Como nosso objetivo não é contender, mas aprender, sem considerar a relação apresentada como exaustiva, podemos ver o comportamento de Jesus em cada uma destas visitas e, então, vermos como devemos nos visitar uns aos outros e aos necessitados, já que este é nosso dever.

- Na visita à casa de Pedro (Mt.8:14-17; Mc.1:29-31; Lc.4:38-41), a primeira lição que temos é de que Jesus não deixava de visitar as casas dos Seus discípulos, mesmo os tendo mandado deixar tudo para que O seguissem. É muito importante que visitemos os lares daqueles que estão ao nosso lado na obra do Senhor, que haja uma aproximação entre os lares daqueles que têm chamados semelhantes na casa de Deus. Este entrosamento faz com que nos aproximemos, conheçamos um melhor ao outro, o que somente trará bons resultados na igreja local.

- É muito interessante que o texto bíblico afirma que Jesus entrou na casa de Pedro, ou seja, não a invadiu, não Se convidou. O contexto indica que foi convidado a ir até lá, logo depois de saírem da sinagoga. Isto nos mostra que a visitação pode se dar em continuidade ao culto, à reunião da igreja local. Entretanto, nos dias em que vivemos, quando os irmãos se dispõem a ficar até o término da reunião, saem em desabalada carreira, cada um para a sua casa, sem qualquer relacionamento social, pois têm pressa de sair da presença de Deus (inclusive os obreiros, que, muitas vezes, na atualidade, são inacessíveis aos crentes…).

OBS: “…Com o retorno dos judeus do cativeiro da Babilônia(…) A visita aos doentes e aflitos, a fim de prestar-lhes assistência e dizer-lhes palavras de consolo, adquiriu proeminência inusitada. ‘Não retarde sua visita a um homem doente’, aconselhava o escritor ‘sábio’ Jesus Ben-Sira, no século II a.E.C. Os Sábios Talmúdicos, nos séculos que se seguiram, tentaram ensinar aos devotos que ‘aquele que visita uma pessoa doente ajuda-a a viver mais tempo’. Era considerado uma obrigação moral para todas as pessoas visitar os doentes em todas as oportunidades e dar-lhes toda a assistência material ou moral que fosse necessária.(…) Tornou-se hábito na Idade Média, na Europa, visitar os doentes imediatamente após a conclusão do serviço matutino do Sabath, na sinagoga. A saudação do visitante ao entrar no quarto do doente, prescrita pelo Talmud, deveria ser: ‘Que a boa saúde seja convosco!’ E, ao sair, ele deveria dizer ao doente:’Hoje é o dia do Sabath, e é-nos proibido oferecer preces plangentes pela sua saúde. Esteja, porém confiante em que breve se recuperará. Acredite na compaixão infinita de Deus, e que esse dia santo lhe traga a paz!’…(AUSUBEL, Nathan. Doentes, visita aos. In: A JUDAICA, v.5, p.250).

- Outra lição que extraímos desta visita de Jesus é que Jesus só orou pela sogra de Pedro depois que lhe deram notícia da necessidade e que pediram que ele a curasse. Jesus não foi bisbilhotar onde estava a sogra de Pedro, se havia ou não comida na casa (o que seria até legítimo, já que a visita se deu depois da ida à sinagoga…), o que havia na panela para comer, o que estava acontecendo na casa. Não, não e não! Jesus entrou e nada perguntou. Vieram falar-lhe que a sogra de Pedro (que parece que era a cozinheira da casa) estava acamada, com febre e pediram por ela e Jesus, então, após ser notificado, orou por ela, curou-a e, então, curada, a sogra de Pedro foi servi-los. Respeito à intimidade dos moradores e atendimento às necessidades que Lhe foram notificadas (apesar de Jesus ser onisciente…) é a conduta que deve ser seguida por todo aquele que estiver visitando alguém.

- Devemos, também, notar, nesta visita à casa de Pedro, a delicadeza e a civilidade do Senhor. Os textos bíblicos mostram que Jesus Se inclinou até onde estava a sogra de Pedro, para repreender a enfermidade. Sem escândalo, sem barulho, sem algazarra, bem diferente do comportamento de certos “santos homens e mulheres de Deus” dos nossos dias. Além do mais, é dito que Jesus tomou a sogra de Pedro pela mão (sinal de respeito, pois se tratava de pessoa idosa, mais velha que o Senhor), para que se levantasse. Delicadeza, polidez, discrição são características que Jesus nos ensina na visitação.

- A segunda visita constante da relação do Setor de Educação Cristã da CPAD é a visita à casa de Mateus, um publicano que foi chamado por Jesus para ser Seu discípulo (Mt.9:10; Mc.2:14-17; Lc.5:27-32). A primeira lição que tiramos desta visita é a de que não podemos nos deixar levar pelos preconceitos sociais na visitação. Mateus convidou Jesus para uma refeição e ali chegaram publicanos e pecadores, que também se sentaram à mesa, pessoas que também haviam sido convidadas por Mateus e que eram do seu convívio social até então. Jesus não repreendeu Mateus por ter convidado este tipo de gente para o banquete, apesar da falta de caráter destas pessoas. Jesus bem sabia que a casa era de Mateus e não dEle e que Mateus havia convidado os seus amigos. Era ele um recém-convertido e somente tinha amigos entre publicanos e pecadores e isto deveria ser levado em conta. Além do mais, Jesus havia vindo para salvar os pecadores e nada melhor que estes viessem para ouvi-lO.

- A segunda visita de Jesus ensina-nos que não devemos nos mover pelos preconceitos e respeitar os relacionamentos dos que são visitados. Se somos convidados, se a pessoa tem prazer em levar Jesus para seu lar, Jesus que está em nós, devemos aceitar este convite e não fazer qualquer acepção de pessoas, pois somos participantes da natureza divina (II Pe.1:4) e, assim sendo, não podemos fazer acepção de pessoas (Rm.2:11). Muitas visitas perdem completamente o seu valor porque demonstramos nossa parcialidade, nossos preconceitos, negando a aparência de piedade que temos (II Tm.3:5).

- Esta visita de Jesus mostra, claramente, que o Senhor tinha, por finalidade, em Suas visitas, trazer cura aos doentes, cura que deve ser entendida tanto do ponto-de-vista físico quanto espiritual. Nossas visitas devem também ter finalidades determinadas e ter, por objetivo, cumprir o dever do corpo de Cristo de “curar todos os oprimidos do diabo” (At.10:38). Mesmo exemplo temos na visita que Jesus fez à casa de Zaqueu (Lc.19:5-10), que não foi mencionada pelo Setor de Educação Cristã da CPAD.

- A terceira visita mencionada de Jesus é a realizada na casa de Jairo (Mt.9:23-25; Mc.5:36-43; Lc.8:50-56). Aqui, Jesus, uma vez mais, Se dirige a uma casa porque foi convidado a ir até lá. No meio do caminho, alguém veio ao encontro de Jairo e quis demovê-lo da visita, mas Jesus interveio dizendo a Jairo para que tão somente cresse, apesar de tudo parecer perdido. Isto nos ensina que, em havendo o convite para irmos até a casa de alguém, devemos ter o devido discernimento para não permitirmos que a incredulidade seja lançada no coração daquele que nos convidou e nos impeça de chegar até o local. Não são poucos os obstáculos que o adversário de nossas almas lança para impedir que façamos uma visita, mas devemos suplantá-los em nome do Senhor. Isto não significa, em absoluto, que sejamos atrevidos e invadamos residências, como muitos fazem, mas que, uma vez formulado o convite, lutemos para que concretizemos a visita Assim como Jesus, não podemos ficar no meio do caminho.

- Outra lição que aprendemos neste episódio da visita a casa de Jairo é que há pessoas cuja presença na casa tem por finalidade tão somente perturbar a obra de Deus e que, por isso, devem ser afastadas para que a obra de Deus se realize. Era o caso dos instrumentistas e das pessoas que estavam na casa de Jairo para chorar a morte da menina. Note-se que não eram integrantes da família visitada, mas pessoas que ali estavam única e exclusivamente para tirar proveito daquela situação de adversidade. Precisamos ter o discernimento para impedir que estes “perturbadores” impeçam a obra de Deus. A visitação deve se circunscrever àqueles que queriam a nossa visita. Devemos agir respeitosamente, como fez o Senhor para tirar aqueles “perturbadores”, sem alarde, escândalo ou medidas inconvenientes. Devemos atuar sempre sob a direção do Espírito Santo de Deus.

OBS: Cada caso é um caso e dependemos da orientação do Espírito Santo, o único que conhece os corações, mas é bom verificarmos que uma das características dos “perturbadores” é de zombar de Jesus, menosprezar e ridicularizar a Palavra de Deus.

- Outra circunstância que aprendemos nesta visita é de que o visitante deve ser alguém que estimule e promove a fé dos visitados. Jesus não permitiu que Jairo esmorecesse, mas o estimular a tão somente crer. Para tanto, é preciso que o visitante seja uma pessoa de fé. como pode estimular e incentivar algo que não possui? Eis a razão por que o visitante deve ser uma pessoa que tenha experiência com Deus, não um neófito.

- A quarta visita mencionada é a feita à casa de Simão, o leproso (Mt.26:6-13, Mc.14:3-9, que alguns consideram ser a mesma visita registrada em Jo.12:1-8). Nesta visita, vemos, uma vez mais, Jesus respeitando as atitudes dos que visitava. Uma mulher, identificada em João como sendo Maria, irmã de Lázaro, fez um gesto de adoração, lançando ungüento caríssimo aos pés do Senhor, o que indignou os presentes. Jesus, porém, permitiu que ela lho fizesse e ainda disse que isto ficaria registrado para memória da mulher, porque o havia feito por amor ao Senhor, não dando ouvidos à indignação resultante do amor do dinheiro. Jesus mostra, nesta atitude, que, nas visitas, devemos dar primazia às pessoas em detrimento às coisas, devemos reconhecer a sinceridade e o desejo das pessoas em servir ao Senhor e não nos prendermos a uma hipocrisia escondida atrás de uma máscara que, quase sempre, é a da religiosidade.

- Em quantas visitas, não aparecem aqueles “religiosos” que, interessados em coisas menos nobres, não se precipitam em censurar e reprovar as atitudes daqueles que estão sendo visitados? Não é nosso papel, porém, censurar e reprovar aqueles que estão servindo a Deus com sinceridade, mas devemos, sempre, enaltecer todas as atitudes sinceras e humildes de adoração ao Senhor. Jesus Se calou ante aquela atitude de adoração e tão somente deu um ensino àqueles que censuravam. Este deve ser o comportamento de quem visita: enaltecer os atos de adoração sincera e autêntica e, sem ingressar em contendas, discussões e debates, fazer cessar as censuras e reprovações, inclusive sem revelar os intentos menos nobres que motivam tamanha “religiosidade”, pois isto não seria edificante.

- A quinta visita mencionada é a realizada por Jesus na casa de Simão, o fariseu, registrada em Lc.7:36-50 e que não pode ser confundida com a visita anterior. Nesta visita, vemos, em primeiro lugar, que Jesus atendeu a um convite, algo que já aprendemos em visitas já anteriormente analisadas. Apesar de ter sido convidado, Jesus não foi bem recebido, mas isto não impediu que se mantivesse na visita, cujo propósito era o de tomar uma refeição.

- Muitos visitantes, quando não são convenientemente recebidos, desistem de seu intento e logo vão embora. Sentem-se magoados, desrespeitados e, não raras vezes, abandonam até o ministério da visitação. Não foi, porém, o comportamento de Jesus. Chegou, não foi devidamente recebido, pois ninguém Lhe deu água para lavar os pés, como era o costume na época, não recebeu o ósculo, que era o cumprimento de saudação, nem tampouco recebeu a unção da cabeça com óleo nem o ungüento com os pés, recepções mínimas para um convidado. Apesar disto, Jesus não ficou “indignado” ou “revoltado” e foi embora, mas simplesmente Se assentou à mesa, esperando o momento de serviço da refeição. Que grande lição para nós!

- O visitante não deve ter medo de “cara feia”, de algumas atitudes indelicadas e mal-educadas de que venha a ser objeto na casa que estiver visitando, mesmo por parte daquele que convidou. Se está ali a convite da pessoa e se há um propósito para a visita, é nosso dever nos mantermos na casa até cumprirmos o propósito. Nós devemos ser os educados, não os visitados; nós devemos respeitar as convenções, não os visitados. Nós é que estamos a representar a consolação, a alegria, não os visitados. Mantenhamo-nos, pois, firmes, para o fim de cumprirmos o propósito estabelecido na visitação.

- Agora, se nos for dada oportunidade, como ocorreu com Jesus que, ante a chegada da pecadora que ungia Seus pés, foi recriminado pelo anfitrião, devemos, com objetivo de edificação, demonstrar o nosso constrangimento, mas não para “brigar” ou “lançar em rosto” a indelicadeza de que fomos vítimas, mas tão somente para que as pessoas possam entender, nas nossas palavras, que Jesus está pronto a perdoar e a salvar as pessoas. Jesus trouxe a lição do perdão para Simão, o leproso, não uma reprovação pelo seu mau comportamento em receber um convidado. Devemos não lançar o azourrague da reprovação, mas mostrar a todos o grande amor de Deus para salvar os perdidos, para aperfeiçoar os comportamentos e as condutas daqueles que já conhecem o Salvador.

- O resultado da ação de Jesus não foi a vergonha de Simão, o fariseu, nem tampouco a humilhação de quem quer que seja, mas o desejo em se saber quem era Jesus, quais eram os Seus poderes (Lc.7:49). Sempre estaremos a agir bem se o nosso maltrato foi revelado para que todos possam querer saber quem é Jesus. Caso contrário, devemos nos calar.

- A sexta visita mencionada é a feita à casa de Marta e Maria. Como já dissemos, entendemos que há duas visitas mencionadas de Cristo a esta casa em Betânia, uma em Lc.10:38-42 e a que se deu após a ressurreição de Lázaro, registrada em Jo.12:1-11, que muitos entendem ser a mesma visita feita a Simão, o leproso. Não há registro bíblico da visita de Jesus à casa de Maria e de Marta quando da ressurreição de Lázaro, motivo por que não podemos extrair, das Escrituras, lições a respeito desta suposta visita (que é possível que tenha ocorrido, mas que não foi registrada).

- Por causa disso, deter-nos-emos na visita registrada em Lc.10:38-42. Mais uma vez, vemos Jesus entrando em uma casa para a qual foi convidado, pois é dito que Marta recebeu o Senhor, que estava na aldeia de Betânia. Como, diante de tantas demonstrações de um Senhor que não invade lares, que não entra em casa alguma em que não é bem recebido, como podemos admitir que os “curiosos” e “violadores de intimidade”, numerosos em muitas igrejas locais, existentes desde os tempos apostólicos e que o apóstolo Paulo, muito adequadamente, denomina de “os que andam desordenadamente” (II Ts.3:6,11), venham a compor nossas “comissões de visitas”?

- Nesta visita, vemos que Jesus passou a ministrar a Palavra, mas Marta passou a tratar dos serviços da casa, distraindo-se, enquanto que Maria ficava aos pés do Senhor. Notemos que Jesus não exigiu a presença de Marta, nem mandou que Maria fosse ajudar a sua irmã. Seu propósito era pregar a Palavra, não receber a refeição que Marta deveria estar preparando. Jesus sabia qual era o Seu objetivo naquela visita e respeitou que Marta não escolhesse a melhor parte. Respeito ao livre-arbítrio das pessoas e à intimidade do lar. Que lições preciosas que temos de aprender para fazermos uma visitação eficaz.

- Jesus ministrava a Palavra. Nas nossas visitas, precisamos ter conhecimento da Palavra e falar de Jesus, não das Marias, dos Josés, Joões. Como é triste vermos uma visitação se transformar em uma sessão de fofoca, em um incêndio de língua que mata a todos quantos atinge (cfr. Tg.3:5-8). Que Deus nos livre de sermos agentes de Satanás para, nas visitações, queimarmos com fogo inflamado do inferno, os visitados!

- Jesus, também, limitou-Se a ministrar a Palavra e a não se envolver na discussão familiar. Que boa lição a ser aprendida por nós. Os visitantes não devem tomar partido, não devem interferir nas lides familiares dos visitados, na economia doméstica, mas tão somente levar a Palavra de Deus a todos eles, para que eles mesmos, sob a direção do Espírito Santo, cheguem a bom termo. Devemos levar a paz, o Príncipe da Paz, não contendas, porfias ou lutas aos nossos visitados.

- Há relatos de outras visitas em o Novo Testamento, mas entendemos que só as visitas de Jesus aqui mencionadas são suficientes para nos dar o “guia da visitação”, esta importantíssima missão que o Senhor nos confiou. Quantas visitas o(a) amado(a) irmão(ã) já fez este ano?

Colaboração para o Portal EscolaDominical: Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco.

APÊNDICE AO ESTUDO

Letra do hino 407 do Cantor Cristão (mencionado no estudo):

Vem! Visita a tua igreja,

Ó bendito Salvador!

Sem tua graça ela murcha

Ficará e sem vigor.

Vivifica, vivifica (bis)

Nossas almas, ó Senhor!