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Assembléia de Deus Missão do Brasil - Estudos Bíblicos



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No reino das mil e uma noites

O livro de Ester

Existe um livro da Bíblia onde o nome de Deus nunca é mencionado - o livro de Ester. No entanto, apesar de não haver sequer uma menção a Deus, sente-se a sua presença por todo o livro e percebe-se que ele está no controle da situação.
É como uma daquelas casas de bonecas, onde o telhado é removido e algum pai grandão se inclina para dentro, move os personagens, reagrupa os móveis e faz o que lhe dá na telha. Esse papai enorme não caminha dentro da casa, mas controla tudo o que ali acontece. Assim é o livro de Ester. Aqui não se vê, nem se ouve Deus, mas sente-se que a sua presença domina todos os acontecimentos.
Quero contar-lhes a história de Ester vista por um dos menores personagens do livro. Este personagem trabalha no palácio, onde é servente do rei. Ele assiste a tudo o que acontece dentro do palácio; a tudo observa. Veremos a história sob a ótica de um homem que nunca ouviu o nome de Deus, mas que acompanha de perto todos os acontecimentos palacianos. Que sensação tem ele de tudo o que vê?
Meu nome é Harbona. Meu trabalho? Na Inglaterra seria um criado e no seu país talvez fosse conhecido como secretário particular. Em meu país sou Harbona, camareiro de Xerxes, rei da Pérsia. Você o conhece como Assuero. A princípio hesitei em aceitar o emprego; a gente nunca sabe o que vai na cabeça de um rei. Um dia somos bons amigos - tudo vai às mil maravilhas - e no outro, de repente, ele pode pedir literalmente a minha cabeça.
Haja vista o que aconteceu com Pytius, um alto oficial do rei. Ele ofereceu a Xerxes quatro milhões de dólares como pagamento por uma das incursões do exército persa. Xerxes ficou tão entusiasmado pela generosidade desse oficial que, além de recusar o dinheiro, deu a Pytius um lindo presente. Dias depois, quando Pytius insinuou ao rei que o seu filho mais velho poderia ser dispensado do exército, Xerxes ficou tão furioso que pegou o rapaz, matou-o, cortou-o em duas partes e fez o exército marchar ao lado dos pedaços. É isso o que quero dizer, quando afirmo que ninguém sabe o que se passa na cabeça de um rei. Noutra ocasião, um temporal fez naufragar trezentas de suas embarcações. Xerxes pegou um relho, caminhou até a praia e açoitou o mar trezentas vezes, uma para cada navio afundado.
Você percebe por que hesitei em aceitar o trabalho. Mas aceitei! Decidi que teria um bom comportamento, nunca o incomodaria, não o perturbaria, e apenas me acomodaria, como as melancias se acomodam ao balanço da carroça.
Deixe-me familiarizar você com uma série de coincidências interessantes ocorridas recentemente na Pérsia. Tudo começou anos atrás depois do fiasco da Ba"a de Salamina. Foi uma tragédia. Xerxes queria invadir a Grécia, pensando em expandir o seu império. Tudo ia bem, até que numa batalha naval, na Baía de Salamina, a frota toda foi a pique pela ação dos gregos e Xerxes teve que fugir para a Pérsia escondido num barco de pesca. Muito tempo depois desse acontecimento, Xerxes continuava absorto em seus pensamentos e totalmente isolado da realidade. A fagulha da vida desaparecera.
E então começou a preocupar-se e a tecer comentários sobre o que acontecera a Vasti; pobre Vasti, ele a tratara tão injustamente. Chego a admitir que foi um romance infeliz. Ela era a rainha que o rei descartara. Mas isso é coisa do passado. De nada adianta ficar atordoando o monarca com essas lembranças. Pensei comigo: precisamos fazer alguma coisa para que o rei volte a viver como antes. Já sei: mulheres, e muitas! Assim ele poderá esquecer-se de Vasti. Respirei fundo, criei coragem e falei ao rei: "Xerxes: por que você não traz para o palácio todas as lindas virgens que vivem espalhadas em seu reino? Você pode conviver com as donzelas e, quem sabe, entre elas encontrará a sua nova rainha". Ele acatou o meu conselho. Não demorou muito e as mais lindas moças da Pérsia enchiam de vigor o palácio. O rei recobrou a alegria. Aquelas lindas moças! Ele esteve com cada uma delas.
Uma, em particular, despertou-lhe interesse. Xerxes passou a estar com ela mais vezes e, dentro de pouco tempo, era a única que lhe interessava. Claro, o rei encontrara a sua nova rainha. Era Ester. Do meu ponto de vista ele acertou em cheio e ficou com a mais bonita; uma espécie de rara beleza. No entanto, eu percebia em Ester um quê de mistério; parecia não ser uma moça persa. Sua compleição física e a tez morena - bem, que diferença isso faz? Ela se tornou uma bela rainha e o rei voltou a viver como antes.
Tudo corria bem. A calma dominou o palácio durante uns cinco anos. Certo dia, quando o rei estava na sala de audiência, entrou Hamã. O rei tinha por ele certas preferências. O dignitário subiu de cargo no departamento de estado com certa rapidez, no decorrer de vários anos, ao ponto de se tornar o segundo em autoridade no reino. Eu não gostava dele. Não confiava em Hamã. Mas nunca expressei minha opinião ao rei. Você entende, a gente se acomoda ao balanço da carroça. Bem, Hamã havia preparado um pequeno discurso para Xerxes. "Xerxes, espalhado por todo o reino existe um povo que representa grande perigo; é gente que tem as suas próprias leis e não liga para a lei dos persas. Não é bom o rei continuar tolerando esse povo. Sugiro que façamos uma lei decretando que todos sejam mortos, e eu, pessoalmente, darei dos meus recursos financeiros para que isso seja levado a efeito."
Sabe o que disse o rei? "Parece razoável, Hamã. Vá em frente. Mas não use o seu próprio dinheiro e sim o dinheiro do banco do governo." E foi só. Ele nem perguntou a Hamã que povo era. Xerxes agia assim mesmo. Mas o que me intrigou mesmo não foi a reação de Xerxes, mas a de Hamã. Eu não entendi onde ele queria chegar. Hamã não costumava ser tão solícito pelo bem-estar do rei, nem tão pródigo a ponto de usar de seu próprio dinheiro, a menos que tivesse segundas intenções. Por isso decidi investigar o que se passava.
O professor dos filhos de Hamã era meu amigo. Sabe o que Hamã tinha em mente? Queria varrer da face da terra uma raça inteira só para se vingar de um homem daquela raça. Eis o problema: Na Pérsia existe o que chamamos de câmara do povo", uma espécie de câmara de vereadores com representantes de todos os grupos étnicos que vivem no reino. Cada grupo escolhia o seu representante. A câmara de vereadores decidia aquelas questões pertinentes ao povo, para que o rei não fosse perturbado com tantos problemas. Como segundo no reino, era dever de Hamã aparecer periodicamente na câmara a fim de verificar se tudo ia bem. Sempre que entrava no recinto, todos os representantes daqueles grupos raciais levantavam-se e inclinavam-se diante dele - menos um, o representante judeu, que permanecia sentado em sua cadeira. Hamã notava que todos se prostravam, menos aquele, que permanecia na mesma posição, observando-o.
Muito bem, senhor representante dos judeus. Você vai ver o que vou fazer com você e com o seu povo. Era isso: Hamã queria o sangue dos judeus. Ele queria exterminá-los somente porque o representante judaico na câmara não se inclinava - É isso mesmo, liquidá-los! Li uma cópia do decreto logo depois de editado. Era brutal. "Destruam, matem e aniquilem todos os judeus, jovens e velhos, mulheres e crianças, no dia 13 de dezembro, e confisquem as suas propriedades." Não havia como errar. "Destruam, matem e aniquilem" - era essa a ordem expressa - "todos os judeus, jovens e velhos, mulheres e crianças, no dia 13 de dezembro." Pensei comigo: Pobres judeus! Eles têm apenas onze meses de vida.
Refletindo sobre o que li, cheguei à conclusão de que aquilo não tinha o menor sentido. Eu podia entender que aquele judeu não se inclinava perante Hamã por causa de suas convicções religiosas. Mas nós, os persas, sempre concedemos liberdade de religião a qualquer raça em nosso país. Aquilo ficou atravessado na minha garganta. Pensei em comentar o assunto com o rei, mas por que deveria colocar meu pescoço a prêmio? Além disso, era tarde demais. O decreto já estava sendo divulgado por todo o país.
Alguns dias depois, eu estava no segundo andar do palácio, quando um gemido ecoou pelos corredores; alguém gemia no pátio. Debruçando-me vi uma pessoa chorando, gritando e gemendo terrivelmente. Dava pena de ver; os cabelos desgrenhados, o rosto sujo de carvão e cinza, as roupas rasgadas. Pensei: alguém deve mandar aquele cara sair do palácio. Enquanto descia as escadas esbarrei em Hataque, atendente do rei; ele ia fazer o mesmo que eu, só que levava algumas roupas. Perguntei-lhe: "Onde você vai?"
"Vou me encontrar com aquele sujeito lá no pátio. A rainha quer que eu leve essas roupas para ele."
"Sim, está bem. Vá em frente e diga àquele homem que saia logo do palácio." Pensei comigo mesmo: Ester é assim mesmo, caridosa. Quantas rainhas se preocupariam com um "bebum" seminu precisando de roupas? Hataque retornou pelas escadas ainda com as roupas nas mãos. "Qual é o problema. Não são o número dele?"
"Você sabe quem é aquele sujeito?"
Não. Quem é?"
"É o representante dos judeus."
"Bem. Então tem muito a lamentar pelos judeus - provavelmente já viu o decreto - mas por que vem se lamentar aqui no palácio?"
"Não sei. Ele me entregou esse papel, pedindo-me que o entregasse a Ester."
"Deixe-me ver do que se trata. Claro, é uma cópia do decreto. Mas por que perturbar a rainha Ester? Esse assunto não é da competência dela."
"Não sei. Apenas pediu-me que solicitasse a Ester que se apresentasse ao rei sobre o assunto."
"Discutir esse assunto com o rei? Xerxes sabe sobre o decreto, mas nem imagina que se trata do povo judeu. Além do mais, por que ir ao rei através da rainha? O que ela tem a ver com isso?"
"Não sei, mas é melhor fazer o que ele me pediu, está bem? Deixe-me levar esse decreto a Ester."
"Vá em frente."
Na tarde daquele mesmo dia vi Hataque outra vez. Sua aparência era de alguém sentado num barril de pólvora. "Olá, Hataque. Como vão as coisas?"
"Harbona? Harbona, você não vai acreditar, mas a rainha é judia!"
"Você está brincando!"
"Não. Estou falando sério."
"Bem que eu desconfiava de que ela não era uma mulher persa!"
"Sim, ela é judia. E quando mostrei à rainha o decreto condenando os judeus à morte, ficou branca como cera, mas não quer falar com Xerxes sobre o assunto. Você sabe, faz já um mês que o rei não solicita a presença dela em seu gabinete."
"Claro que sei. O rei costuma ter essas crises..."
"Mesmo assim Ester me pediu para falar com o representante dos judeus; é Mardoqueu, tio dela. A rainha me disse para avisá-lo de que este não é o momento certo de ver o rei. Se comparecer à presença dele sem ser convidada, Xerxes é capaz de zangar-se e... você sabe. Ester pode pôr a cabeça na guilhotina. Mas Mardoqueu me pediu para avisar à rainha que, fosse o momento certo ou não, a vida dos judeus estava em risco. Nem ela seria poupada. E acrescentou: "quem sabe se para uma hora como esta ela se tornou rainha?"
"E o que Ester vai fazer?"
"Bem, Harbona. Ela vai jogar com todas as chances de tentar ver o rei. Harbona, você acha que deveríamos dizer alguma coisa a esse respeito ao monarca?"
"Nem pensar. Eu não quero subir nessa corda bamba entre Xerxes, Hamã e Ester. Eles que se virem!" Mas pensei: Puxa vida! O circo está pegando fogo. Hamã publicou um decreto contra os judeus para se vingar de Mardoqueu, mas não sabe que Ester é judia e que Xerxes nada sabe a respeito.
Não foi preciso esperar muito tempo. Alguns dias depois Xerxes voltou a dar audiência. A porta lateral se abriu e Ester entrou. Gente, ela estava linda! Trajava suas melhores roupas e estava toda produzida. Xerxes olhou - e baixou o cetro rapidamente. Ela se aproximou e o rei percebeu que alguma coisa a perturbava. Xerxes, quando quer, se torna muito gentil. Você deveria ouvi-lo perguntar: "Olá, Ester. Você precisa de alguma coisa? Basta dizer e você a terá." Pensei que ela falaria daquele decreto, mas não o fez. Mais tarde entendi que foi melhor assim, porque Hamã não estava na sala. No entanto, Ester disse ao rei que naquele dia fizera um almoço especial e gostaria que o rei e Hamã lhe dessem a honra de comparecer em seus aposentos. Na hora do almoço, Xerxes queria descobrir o que a incomodava, mas ela silenciou. Eles foram novamente persuadidos a comparecer no dia seguinte para outro almoço. O rei e Hamã poderiam almoçar com ela? E aí pensei: o que ela está esperando? Por que não fala logo? Foi uma coincidência providencial Ester nada ter contado ao rei durante o primeiro almoço, porque algumas coisas estranhas aconteceram antes do segundo. É inacreditável como esses acontecimentos se encaixam um no outro. Se ela tivesse falado ao rei no primeiro almoço, teria sido cedo demais porque a partir daí as coisas tomaram outro rumo.
A primeira coisa que aconteceu - e essa informação obtive do tutor da casa de Hamã - é que Hamã chegou em casa vibrando, parecia andar nas nuvens depois daquele primeiro almoço. Naquela noite, Hamã deu uma grande festa a todos os seus amigos, vangloriando-se do sucesso pessoal - a fortuna que angariara, a posição no departamento de estado como segundo na hierarquia do reino e, hoje, o clímax, um almoço particular com a realeza. A única traça em seu tapete persa era o judeu Mardoqueu que, mesmo com a publicação do decreto, não se levantava nem se inclinava diante do dignitário nas reuniões da câmara. Assim, nessa noite, durante a festa, Hamã e seus amigos decidiram que Mardoqueu teria que ser morto antes de 13 de dezembro. Ergueram uma enorme forca nos jardins da mansão e concordaram que, nas primeiras horas da manhã, Hamã solicitaria ao rei o enforcamento do representante dos judeus. A segunda coisa que aconteceu entre os dois almoços - parece algo misterioso - é que Xerxes perdeu o sono. Não conseguia dormir - olha que o rei costuma dormir como uma pedra. Por volta das três da manhã ele me chamou: "Harbona!". Eu dormia no quarto ao lado.
"Harbona, não consigo dormir. Leia-me alguma coisa."
"Que tal ler os registros memoráveis de seu reino?"
"Ótimo. É isso mesmo que quero ouvir."
Tomei os rolos, sentei-me numa cadeira ao lado de Xerxes e comecei a ler. Depois de uns quinze minutos de leitura, cheguei a um parágrafo muito interessante, um relato contando que o representante dos judeus, quando se dirigia certo dia para a reunião da câmara, ouviu duas pessoas tramando assassinar o rei. Ele avisou à rainha, evitou o atentado e salvou a vida do monarca. Ao ouvir esse relato, Xerxes franziu o cenho, arregalou os olhos e comentou: "Claro, lembro-me de que Ester me contou esse caso. Harbona, esse homem - quem é mesmo? Mordiquei - ganhou alguma recompensa?"
"Mardoqueu."

"Ele foi recompensado com alguma coisa?"
Olhei atentamente os parágrafos seguintes. "Não."
"Harbona, a primeira coisa que quero fazer de manhã - por favor me lembre - é recompensar o homem."
"Ótimo." Mal posso esperar. Hamã quer enforcá-lo, e o rei, honrá-lo. Essa vai ser a maior refrega do palácio.
Xerxes nem precisou ser lembrado. Na manhã seguinte, pergunta: "Algum dos meus conselheiros está na casa?"
Uma voz lhe responde: "Hamã está aguardando para a audiência."
"Mande-o entrar." Hamã se aproxima do rei, ávido por falar de seus planos, de como queria enforcar o representante dos judeus. Nem teve tempo. "Hamã, há no meu reino um homem a quem devo a minha vida. Estou em débito com ele e quero publicamente demonstrar-lhe a minha apreciação a fim de que todos saibam como o rei lhe quer bem. O que você sugere, Hamã?"
Hamã tinha alguma idéia? Ele imaginou tratar-se de si mesmo. "Bem, Xerxes, vejamos... Quem quer que seja, para sermos justos, eu vestiria esse indivíduo com as roupas do rei, colocaria uma coroa de ouro em sua cabeça e o levaria pelas ruas da cidade montado no cavalo do rei, acompanhado por uma comitiva de oficiais palacianos, proclamando: "Esse é o homem a quem o rei quer honrar."
"Hamã, isso é ótimo! Veja bem, você é o líder dos oficiais e quero que faça exatamente o que sugeriu com o representante dos judeus. Seu nome é Mordiquei. A essa altura deve estar saindo da reunião do conselho. Encontre-o e vista-o como mencionou. Hamã, anuncie bem alto, pois devo muito a esse homem."
Você deveria ter visto a expressão do rosto de Hamã! Um minuto antes sua fisionomia brilhava de entusiasmo, agora estava pálido como cera. Logo que saiu, Xerxes me perguntou: "O que há com Hamã? Não está se sentindo bem?"
"Não, ele é assim mesmo."
Você entendeu quando eu disse como as coisas se estavam encaixando? Durante toda manhã ouvíamos notícias do alegre desfile promovido por Hamã. Era hilariante. Ao meio-dia dirigimo-nos todos à residência da rainha para o almoço. Hamã chegou um tanto perplexo e estava se recompondo para não causar má impressão. O almoço estava delicioso - Hamã, Xerxes e Ester. Enquanto se deleitavam com a sobremesa, Xerxes perguntou à rainha: "Ester, alguma coisa a está perturbando nesses últimos dias. Quero que me diga do que se trata. Posso fazer alguma coisa por você? Você precisa de alguma coisa?"
Pensei: É agora. Estava certo. "Sim, Xerxes, uma coisa o rei pode fazer por mim; uma coisa o rei pode conceder à rainha. Devolva-me a vida e a vida de meu povo, porque estamos destinados à destruição, à morte e à aniquilação."
Você precisava ver a cara de Hamã. Essas palavras eram como chicotadas em seu rosto. Xerxes indagou: "Mas do que você está falando, Ester? Quem ousaria fazer uma coisa dessas? Diga-me."
"Hamã."
"Hamã? Contra os... oh! não!" Isso foi demais. Xerxes teve que se levantar e caminhar pelo jardim para repensar o caso.
Quando Xerxes saiu da sala, Hamã desmoronou. "Ester, eu não sabia, não tinha a menor idéia... por favor, Ester, por favor, por favor." Ela o afastou com um gesto. Levantando-se da cadeira, Hamã dirigiu-se até onde estava a rainha, colocou-se de joelhos diante dela, suplicando-lhe, mas ela não lhe deu atenção. Hamã, então, começou a segurá-la fortemente, tentando chamar a sua atenção. Nesse exato momento Xerxes retornou à sala e pensou o pior - que Hamã a estava forçando...
"Você se atreve a molestar a rainha em meu palácio? Cubram-lhe o rosto!" Foi o fim de Hamã. Quando se cobre o rosto de uma pessoa com um véu negro é o fim.
Foi aí que falei. Não costumava dar a minha opinião, mas o momento parecia seguro. "Bem... Xerxes? Hamã construiu uma forca no jardim de sua casa para enforcar Mardoqueu. Nunca vi uma forca tão alta!"
"Enforquem-no nela!" E foi o que fizeram.
Um novo decreto foi publicado. Na Pérsia, a lei não permite que se anule um decreto, mas pode-se editar um novo para contrabalançar o anterior. O novo decreto dizia que no dia 13 de dezembro os judeus deveriam usar de todos os meios possíveis para se defenderem daqueles que lhes queriam o mal. E mais: o novo decreto afirmava que os judeus poderiam se agrupar e tomar a iniciativa contra os seus inimigos que o governo não os questionaria. Era lindo ver a alegria e as danças que tomaram conta da cidade quando o novo decreto foi publicado.
Naquele mesmo dia fiquei junto à janela do segundo andar, repensando a cadeia de eventos: Ester escolhida rainha dentre tantas moças, Mardoqueu, o representante dos judeus, salvando a vida do rei, e Xerxes com insônia, justamente naquela noite. Vendo pela janela a alegria que tomava conta das ruas, e mais adiante a enorme forca onde Hamã estava pendurado, fiquei perplexo diante de tantas coincidências. Pensei com os meus botões: Puxa! Que gente de sorte!
Assim, ao Deus que não cochila, que nunca dorme; ao Deus que conhece a sua entrada e a sua saída; ao Deus que vigia os seus passos para que ninguém lhe faça mal e o conduz a um futuro promissor por